Nasceu em Natal, no estado do Rio Grande do Norte, a 24. 07.1881, filho de José Idelfonso Emerenciano
(Professor Zuza) e d. Inácia China Emerenciano. Os estudos básicos foram feitos
com o pai e o curso secundário no Atheneu Norte-rio-grandense, onde foi
contemporâneo de Antônio Soares, Tomaz Salustino e Virgílio Dantas, entre
vários outros nomes que se tornariam significativamente importantes não só na
então Província como, inclusive, na história do Estado. Não pôde cursar a
universidade, porém, a exemplo da maioria dos amigos, os quais seguiriam para
outros centros onde fariam medicina ou direito, preferencialmente. Seu pai não
teria recursos suficientes para mantê-lo fora de Natal, estudando. Assumiu o
cargo de Secretário na Capitania dos Portos e passou a colaborar em pequenos
jornais, com críticas e charges. Surgiu a “Gazeta do Comércio”, propriedade de
Augusto Leite e direção do jornalista Pedro Avelino, e ele foi convidado para
compor a equipe de revisores. Foi quando começou a publicar os primeiros
versos, bem recebidos pelos leitores “(...) dada a segurança da métrica, da
rima, e da concepção, versos que eram lidos, decorados e recitados nas reuniões
domésticas, ao som da “dalila”, tirado nos teclados dos pianos” (Ivo Filho, em
discurso de homenagem a Gotardo Neto na ANL na sessão de 15.07.1943, transcrito
na Revista da Academia, Ano III, N.º 3, 1955, p.__ ). Mais adiante, com os
amigos Itajubá, Jorge Fernandes, Ponciano Barbosa, Angione Costa, Antônio
Glicério, Ivo Filho e outros, fundou a Oficina Literária “Lourival Açucena”
(1903), sete anos após criaria a revista “O Potiguar”, da qual também
participaria com os seus últimos poemas. Ainda nos primeiros anos do século
conheceu aquela que seria, doravante, sua única fonte de inspiração: Maria
Mercedes, amor intensamente correspondido mas fadado ao malogro, ao total
esquecimento face aos preconceitos sociais da época (fora seduzida por um
ex-namorado e tal fato, naquela sociedade de rígidos princípios morais, a
infelicitaria definitivamente). As pressões da família e de amigos de Gotardo
fizeram com que Mercedes se afastasse de sua vida, o que, a seu turno, teria
sido o elemento gerador e deflagrador da ruína física e moral do poeta, que a
partir daí se entregou à bebida, afastou-se do trabalho, dos amigos e da
própria vida: “Foi um romântico em verso, prosa e vida”. Diz Cascudo,
complementando, em seguida: “Moço, forte, inteligente, adorado pela cidade em
que nascera, foi para casa numa tarde e, daí a cinco anos, saiu para o
cemitério, inchado, arroxeado e disforme” (Alma Patrícia, p. 133). Seus versos
esparsos em jornais foram reunidos e publicados, postumamente, sob o título de
“Folhas Mortas” (1913). Eis uma amostra: “Fere-me o peito a dor de uma angústia
secreta / Que o meu sonho de amor lentamente extermina / Como o golpe fatal de
uma seta assassina / Como o golpe fatal de envenenada seta” (Câmara Cascudo,
op. cit., p. 136). E outra, citada por João Medeiros Filho: “Folhas mortas vós
sois, ó meus versos queridos! / Folhas mortas que o vento arrebata sem norte /
Em vós todas existe a palidez da morte / E a tortura infernal dos corações
partidos...” (Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, p.
198). Gotardo Neto faleceu em Natal, a 7 de maio de 1911
As dificuldades materiais cedo obrigaram-no a suspender os
estudos e entrar na vida prática, empregando-se na Capitania dos Portos, na
Ribeira, e trabalhando também na redação da "Gazeta do Comércio".
Pertenceu à Oficina Literária "Lourival Açucena",
que publicava o jornal "O Potiguar". Um amor impossível pela jovem
Maria das Mercedes levou-o a perder o primeiro emprego; o empastelamento do
jornal, o segundo. Sem amor e sem emprego, bebendo descontroladamente, viveu os
últimos anos de vida na casa do pai, isolado do mundo, contatando apenas com
uns poucos amigos, dentre os quais, Jorge Fernandes, Ferreira Itajubá, Ponciano
Barbosa e Francisco Ivo. Foi homenageado como patrono da cadeira n° 24, da
Academia Norte-rio-grandense de Letras, cujo primeiro ocupante foi Francisco
Ivo Cavalcanti. (Deífilo Gurgel e Nelson Patriota)